terça-feira, 8 de agosto de 2006

Botões e a saudade eterna

Tinha olhos vivos, inquietos. Ainda me lembro como se fosse hoje, e era tão bom vê-lo correndo, se divertindo ao cutucar um sapo, ou atrás de algum bicho bobo qualquer. Gatos folgados, patos, galinhas, lagartos, até moscas; eram bobos. Nunca queriam brincar. Também pudera! Como um menino, era de uma energia intensa, que era alegria perto de crianças como ele; era ternura perto do triste, era afago quando havia tristeza.

Hoje, só o vazio. Só a coleira de prata que é feita de ferro, que ainda guarda um certo morninho, um cheiro de toda a peraltice e vida que ele tinha. E fica lá, inerte, na cabeceira da cama, junto com um sapatinho amarelo de criança.

Ele foi a infância eterna, um menino. Não sabia falar, mas nem precisava: os ecos deles ainda ressoam na pedra, no gramado, no lago barrento, e, mais ainda... ele vive, entre a saudade e o silêncio.

sexta-feira, 28 de julho de 2006

cemitério de mim

Quando me vi não estava mais perdido... e me encontrei num cemitério, onde estavam enterradas todas as palavras não escritas, todas as palavras que não disse. A alma delas clamava por vida. Por que será que não as disse?!?!

Só me restou mesmo delas foi apenas a lembrança de parcos fios de cabelo desfeito e desalinhado, que grudavam na boca inerte, quando voltavas o olhar para mim.

Tristemente, vi estar ao centro do cemitério uma figueira, quase morta, e ao seu pé apenas restos do que um dia, num tempo de antanho e feliz, era vida, o verde... restos
restos

Um monte de restos, de cinzas que cobriam a lápide lisa clamando pelas palavras que não pronunciei por medo, por pudor, fraqueza, ou mera angústia e incerteza do que ouvir e dizer.

A figueira é a vida, a minha vida, que me estrangula, que não quer outro papel que não o principal, no túmulo jaz toda a vida que a minha vida consome – e quer mais, insaciável, rondando a todo instante meus pulmões a vida não me deixa estar vivo...é uma figueira seca e perversa a me cobrir com suas folhas mortas.