quarta-feira, 4 de julho de 2007

dispersos

Primeiro dia de férias. Curioso, que mesmo depois de tão sonhada data, eu perdi o sono de novo. Acordei antes da hora que gostaria. Não sei o que há comigo. Ontem eu pude sentir e refletir sobre os efeitos dessa insônia; não havia qualquer resquício ou lembrança de bom humor nos meus gestos. Agi horrivelmente, falei horrivelmente, resmunguei como um velho.

Ao fim do dia só faltou eu espumar porque o forno de microondas, maldito, não esquentou a comida direito. Por que eles nunca esquentam a comida como deveriam? As coisas não funcionam como deveriam, e seus donos nunca lêem as porcarias dos manuais. Mas eu li o manual desse forno. De cabo a rabo. E esse puto desse forno não esquenta minha comida direito.

Tudo por preguiça de usar o fogão, ou melhor, de lavar a panela depois.

Primeiro dia de férias e eu já de saco cheio do dia. São sete da manhã, e eu não queria estar aqui. Talvez na montanha, longe do computador ou do celular, esse infame comedor de dinheiro. Pago uma fortuna não pra comer, nem pra beber. Pago pra falar, apenas falar, e a mais grossa fatia disso é pura besteira. O celular é outro aparelho que ninguém sabe usar direito. É algo que querem que funcione como câmera fotográfica, computador, mapa, aparelho de som, rádio. Também é telefone. Não importa! Quanto mais colorido e mais músicas estranhas tocar, melhor. Ao gosto e bel prazer do consumidor.

As pessoas pagam, e pagam caro, para terem cada vez mais coisas que nunca antes lhe foram úteis e que não saberão como usá-las direito. Usar o que compram não é o fundamental. No admirável nada novo mundo feito de polietileno e fibra de carbono o consumo não é mais um caminho, um meio para algum fim. Consumir virou fim em si mesmo.

Malditas futilidades!

Por que eu deixo a televisão ligada? Agora falam do presidente mais antidemocrático da história da humanidade. Um tirano latino-americano chamado Hugo. Dizem que ele tem não a maioria, mais a totalidade dos votos nas Casas legislativas. Curioso: ninguém menciona que foi a oposição, direitista por excelência, golpista e arrogante por hábito histórico, quem simplesmente boicotou o processo eleitoral e não foi ninguém deles para a disputa democrática. Mas é a televisão, algo que deveria lembrar democracia, só lembra pão e circo. Muito circo e nenhum pão. O pão tem que pagar para anunciar nos intervalos do circo. Super democrático. Formam, não informam, e foram mal. Super democrático demais.

E quem um dia vai expressar a minha opinião, ou a sua ou a do seu vizinho? Algumas vezes eu comungava com algumas revistas, de bem menor tiragem que as dos donos das televisões, os “donos do poder”. Não sei se hoje eu consigo. Sinto-me pior do que estava ontem por pensar que desisti.

Curioso é que quem escreveu “os donos do poder” era um deles. Mas os maiores críticos dessas coisas são os que fazem uso dela. Menos os críticos de arte!

Fico esperando o “seu’ Oswaldo, o senhor que aluga a garagem. Ele sempre passa cedo demais. Todas as vezes que ligo, ele me pergunta que horas ele deve passar aqui, eu falo alguma hora e ele responde: “então ta bem, às oito e meia eu passo aí”. Só posso rir. Daqui a pouco ele passa. Sempre pontual.

Hoje, bem cedo, tinha um gato miando na janela. Ele veio antes do “seu” Oswaldo. Sorte a minha.