quinta-feira, 28 de maio de 2009

Teogonia XV

De quando Amauta aprendeu novas formas de semear Açucenas.

Eu não sabia que você estava lá. Cheguei apressado, esbaforido, queria logo ver tua mãe, que tanta saudade deixa. Não foi preciso ninguém falar de ti, e, tudo meio sem querer, como a vida gosta de ser, eu te conheci, pequenina.

E bastou. Você ainda não veio ao mundo, pequeno anjinho, mas já soube me calar! E todos pensaram que alguma coisa me fazia triste. Será que eu fiz cara de quem queria chorar? Por que essa era minha vontade, mas me segurei. E olha, não foi fácil não. Tenho um fraco quanto às coisas pequenas. Gente miúda então, não deixa os olhos esconderem nada!

Talvez demore muito tempo para um reencontro nosso. Você não vai se lembrar desse primeiro, que eu nunca vou me esquecer. Provável que eu não veja quando da tua visão primeva perceber que, dentre os filhos de Baldur, aí no topo do mundo, você teve a dádiva de ser filho da rainha das cores, dos candores.

Fez saber que ainda se pode amar de forma instantânea, incondicional. Agora me diz: como foi que você me comoveu tanto assim?

domingo, 3 de maio de 2009

Futuras memórias

Vi o tempo esfacelar o seu imenso mar de memórias. Não terei talvez mais triste lembrança na vida. Ninguém teria.

Espero também ter netos, para cantar algum lamurio de matuto na cadeia, chorando pela malvada de fita.

Das tantas manias engraçadas, suas paranóias e esquisitices, essas que toda família reclama só porque você sempre repete. Nenhum deles se lembrará do seu cacoete de poeta.

Esse cacoete é a minha herança atávica mais preciosa. Porque com ele que eu pude perceber que Açucena brota quando se descobre quem cabe no teu abraço.

Vou me lembrar com um aperto imenso do modo que seus olhos esverdeados foram se acinzentando, ficando pequeninos. Mas também da esperança que ainda morou no teu sorriso.

Por que dói tanto lembrar do dia que o mundo ainda vai te perder?