domingo, 3 de maio de 2009

Futuras memórias

Vi o tempo esfacelar o seu imenso mar de memórias. Não terei talvez mais triste lembrança na vida. Ninguém teria.

Espero também ter netos, para cantar algum lamurio de matuto na cadeia, chorando pela malvada de fita.

Das tantas manias engraçadas, suas paranóias e esquisitices, essas que toda família reclama só porque você sempre repete. Nenhum deles se lembrará do seu cacoete de poeta.

Esse cacoete é a minha herança atávica mais preciosa. Porque com ele que eu pude perceber que Açucena brota quando se descobre quem cabe no teu abraço.

Vou me lembrar com um aperto imenso do modo que seus olhos esverdeados foram se acinzentando, ficando pequeninos. Mas também da esperança que ainda morou no teu sorriso.

Por que dói tanto lembrar do dia que o mundo ainda vai te perder?

Nenhum comentário:

Postar um comentário