quarta-feira, 20 de julho de 2011

Em busca do Castelo de Mirra III

Nunca Me Esqueças

Lembrei nesses dias de quando entrou em minha vida... De como me fez tão bem perceber que você me levou do desterro à plenitude. Por isso quis tanto te fazer um presente, mas poucas coisas sei fazer que não fermentar palavras, beber e ficar embrigado.

Queria mesmo te dar um rio, um lago inteiro, o vento, ou então uma manhã.

Não uma manhã qualquer; uma que tenha aromas, sem o desespero de quem foge da treva. Tranquila, sem ardis e razões; pura potência, infinta, ou de quem se põe demoradamente sob luas e se emociona quando a noite se envergonha e o dia aparece.

Mas o que te darei é tão irreversível quanto um rio ou um lago, o nonsense e o absurdo. Não é muito além de palavras esparsas em cadernos e rascunhos desconexos. mas saiba que ali deixei plantada toda a poesia que morou em mim.

Mas a vida não é assim como eu ou você queremos, nem os ventos sopram como queremos. Os pequenos pedaços de candor da vida são arrastados pelas contradições, por aquilo que é. Porque assim é o viver; um ser e não ser.

E vamos atuando constante e insistentemente pelos palcos de nós mesmos. Se te deixo um presente, então que ele possa te ajudar a viver, a descobrir o que você é, e o que você não é.

Porque esse presente pode denunciar toda vergonha e perfídia que existe por trás de um sorriso ou palavra, porque o ser tem tantos ou mais ardis como o não-ser. E você encontrará o meu carinho nesse instante, quando tal como um dedo apontando para as chagas do ser, o ser e o não-ser brotem dentro de você, desatando tormentas, demolindo tronos, sejam eles feitos de ouro ou de vento.

Esse poder todo está aí, agora e sempre, em você, Nunca Me Esqueças. É seu, nasceu contigo, não é sina nem castigo. Porque você é, e você também não-é.

Meu desejo é que assim o faça, não por amar ou fazer-se amada, mas pela pura alegria de fazer brotar realidade.

E que a todo instante ser, e não ser, completamente, nada.


Soslaio