Nunca Me Esqueças
Lembrei nesses dias de quando entrou em minha vida... De como me fez tão bem perceber que você me levou do desterro à plenitude. Por isso quis tanto te fazer um presente, mas poucas coisas sei fazer que não fermentar palavras, beber e ficar embrigado.
Queria mesmo te dar um rio, um lago inteiro, o vento, ou então uma manhã.
Não uma manhã qualquer; uma que tenha aromas, sem o desespero de quem foge da treva. Tranquila, sem ardis e razões; pura potência, infinta, ou de quem se põe demoradamente sob luas e se emociona quando a noite se envergonha e o dia aparece.
Mas o que te darei é tão irreversível quanto um rio ou um lago, o nonsense e o absurdo. Não é muito além de palavras esparsas em cadernos e rascunhos desconexos. mas saiba que ali deixei plantada toda a poesia que morou em mim.
Mas a vida não é assim como eu ou você queremos, nem os ventos sopram como queremos. Os pequenos pedaços de candor da vida são arrastados pelas contradições, por aquilo que é. Porque assim é o viver; um ser e não ser.
E vamos atuando constante e insistentemente pelos palcos de nós mesmos. Se te deixo um presente, então que ele possa te ajudar a viver, a descobrir o que você é, e o que você não é.
Porque esse presente pode denunciar toda vergonha e perfídia que existe por trás de um sorriso ou palavra, porque o ser tem tantos ou mais ardis como o não-ser. E você encontrará o meu carinho nesse instante, quando tal como um dedo apontando para as chagas do ser, o ser e o não-ser brotem dentro de você, desatando tormentas, demolindo tronos, sejam eles feitos de ouro ou de vento.
Esse poder todo está aí, agora e sempre, em você, Nunca Me Esqueças. É seu, nasceu contigo, não é sina nem castigo. Porque você é, e você também não-é.
Meu desejo é que assim o faça, não por amar ou fazer-se amada, mas pela pura alegria de fazer brotar realidade.
E que a todo instante ser, e não ser, completamente, nada.
Soslaio
quarta-feira, 20 de julho de 2011
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