Olha só, vou te dizer o quanto isso é sério.
Melhor, direi o que não quero que isso aqui seja: isso
não é, de maneira alguma, poesia. O fato é que não suporto escrever poesia; não
sou, nem pretendo ser, nenhum tipo de “antena da raça”. Isso não é uma elegia;
não consigo elaborar grandes conceitos nem metáforas.
Li hoje que num país da Ásia Central um rapaz de 27 anos
chamado Azatov foi preso, acusado de incitar atividades terroristas. Lá naquele
país tem uma lista com várias religiões que são proibidas. Se você acredita numa
delas e quer que alguém mais o faça, saiba que dá uma cadeia danada. Não faz o
menor sentido ser crime acreditar diferente...
Ainda sobre acreditar diferente, outro dia desses recebi num
e-mail um convite, que já não me lembro se era um lançamento de livro, um
seminário, uma celebração, sobre os quinhentos anos da Reforma Protestante. Meio
milênio! A gente estuda isso no colégio, na faculdade; parece que é apenas um
ou outro capítulo de um evento da história do ocidente. E essa era só mais uma
obra sobre o tema: que poderíamos falar por horas e horas a fio, e escrever
milhares de páginas sobre uma das suas milhares de suas explicações e
interpretações possíveis.
O que tenho aqui é diferente. É um punhado de coisas que não
conseguem ser ditas nem emolduradas em folhas de papel, mas é de encher o
peito, de inflamar o caráter.
Sabe daquelas coisas que te inundam? Pois é... Agora veja
bem o quanto isso é sério! Inunda, de transbordar e de escorrer pelos dedos, e
é aquele malabarismo com a língua que fazemos para não desperdiçar nem uma gota
que seja. Delicado, erótico e perturbador, de encher o peito. Isso é sagrado!
Agora diz pra mim se isso não é sério!?
Hoje no metrô vi uma menininha no colo da mãe, pelo reflexo
do vidro da porta. Ela segurava o vestido, visivelmente novo, pela ponta, e
sorria. O que aquelas mãozinhas seguravam era algo mais sagrado que um sudário,
era radiante! Ela me viu na imagem refletida, sorrindo, e sorriu de volta.
No irreal daquele espelho que se fazia no vidro talvez eu pudesse
dizer o quanto ela sim estava linda e que eu queria muito ter uma filha
igualzinha a ela.
Veja bem o quanto isso é importante! Quando mesmo tudo
parece não fazer o menor sentido, num mundo ao redor que me desentende a todo
tempo, onde tudo parece ser feito para arruinar esperanças, um momento desses
é muito mais que um alento.
Esses instantes todos são feitos de muitas eternidades, como
uma criança que ainda vai nascer, e que a gente sabe que ela terá nome de flor.
Isso é muito, muito sério.