O Capitão Bogatir não tinha dons, nem
poderes de super-herói. Não voava nem soltava raios cósmicos pelas pontas dos dedos.
Mas já naquela época, em tempos de mesmices e falta de ideias, era ousado.
Os mais antigos diziam que ele se
dirigia aos deuses usando “ti”... Épico, mesmo nos tempos tão pouco épicos.
Só que cansou de tecer sonhos, de
todas as tentativas frustradas de realizar coisas impossíveis. Ele se
perguntava: onde estaria a Garota?
Depois que derrotaram o Senhor do Vale
do Silêncio ela foi para os desertos do oeste e nunca mais se viram.
O que pode ter acontecido? Tentava se
lembrar; cadê os olhos e a voz dela!?!?
O esforço quase em vão doía mais que um
golpe; era um último insulto, melindroso e cínico como o próprio inferno. A
angústia da ausência dela impedia qualquer movimento, embotava sua visão.
A falta que ela começou a fazer era tão
grande que ele era capaz de apressar o tempo, porque aquela angústia não
deixava a lembrança ver o que faltava. Talvez ele não fosse tão heroico assim...
Só que uma coisa a desolação não
conseguiu atingir; chegou um momento que a angústia adormeceu, surda e muda, e não pode
aprisiona-lo por tanto tempo.
Nada poderia conter as hordas desenfreadas de sua
saudade, que iam golpeando aquele vazio, testemunhando combates que nunca foram
combatidos. Era mágico!
Aliás, não era o que a Garota procurava?
Um pouquinho de mágica, que talvez estivessem perdidas lá pelas terras ermas do
oeste? Também, naquele lugar de letargias nem mesmo a Garota ou o Capitão
encontrariam mágica. Nem naquele presente nem no passado, era preciso futuro. Um
canhão de futuro, uma nação inteira de futuro!
A mágica estava lá, naquela terra que
ultrapassava o presente, fugindo das incertezas e dos irremediáveis e do
cotidiano.
Ela queria um pouquinho de mágica, e ele um pouquinho de certeza. E para fugir do desterro de si, o Capitão
Bogatir foi para o oeste, sem saber que se encontraria a sua certeza ou a
mágica dela, mas não importava mais, porque ele já partiu com saudade do
futuro.
A única certeza que já tinha é que esse
futuro que já tinha saudade era o tempo da Garota: era ela quem tocava as trompas daquele
novo tempo.