terça-feira, 26 de março de 2013

O Capitão Bogatir e a Garota - uma outra história mais ou menos inventada


O Capitão Bogatir não tinha dons, nem poderes de super-herói. Não voava nem soltava raios cósmicos pelas pontas dos dedos. Mas já naquela época, em tempos de mesmices e falta de ideias, era ousado.

Os mais antigos diziam que ele se dirigia aos deuses usando “ti”... Épico, mesmo nos tempos tão pouco épicos.

Só que cansou de tecer sonhos, de todas as tentativas frustradas de realizar coisas impossíveis. Ele se perguntava: onde estaria a Garota?

Depois que derrotaram o Senhor do Vale do Silêncio ela foi para os desertos do oeste e nunca mais se viram.

O que pode ter acontecido? Tentava se lembrar; cadê os olhos e a voz dela!?!?

O esforço quase em vão doía mais que um golpe; era um último insulto, melindroso e cínico como o próprio inferno. A angústia da ausência dela impedia qualquer movimento, embotava sua visão.

A falta que ela começou a fazer era tão grande que ele era capaz de apressar o tempo, porque aquela angústia não deixava a lembrança ver o que faltava. Talvez ele não fosse tão heroico assim...

Só que uma coisa a desolação não conseguiu atingir; chegou um momento que a angústia adormeceu, surda e muda, e não pode aprisiona-lo por tanto tempo.
 
Nada poderia conter as hordas desenfreadas de sua saudade, que iam golpeando aquele vazio, testemunhando combates que nunca foram combatidos. Era mágico!

Aliás, não era o que a Garota procurava? Um pouquinho de mágica, que talvez estivessem perdidas lá pelas terras ermas do oeste? Também, naquele lugar de letargias nem mesmo a Garota ou o Capitão encontrariam mágica. Nem naquele presente nem no passado, era preciso futuro. Um canhão de futuro, uma nação inteira de futuro!

A mágica estava lá, naquela terra que ultrapassava o presente, fugindo das incertezas e dos irremediáveis e do cotidiano.
 
Ela queria um pouquinho de mágica, e ele um pouquinho de certeza. E para fugir do desterro de si, o Capitão Bogatir foi para o oeste, sem saber que se encontraria a sua certeza ou a mágica dela, mas não importava mais, porque ele já partiu com saudade do futuro.

A única certeza que já tinha é que esse futuro que já tinha saudade era o tempo da Garota: era ela quem tocava as trompas daquele novo tempo.