quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Hora de colher os sonhos maduros

Estiagem no jardim de Açucenas acontece quando seu amauta, seu poetinha, depara-se com tanta coisa, com as cláususlas indecifráveis que fazem a vida parecer um contrato cada vez mais absurdo. Silêncio.
O silêncio é a incongruência maior que pode haver entre Açucena e Poetinha. Silêncio é infame, reacionário, odioso. Mas ele vem, cala a palavra, cala a mão e a caneta. E dolhar que semeia, desolação.
Só posso dizer que entre Poetinha e Açucena existe amor. Mas tão diferente é escrever e falar a palavra amor, outra coisa é dizer amor. Dizer amor é penetrar nos aposentos mais profundos do coração humano, e sem palavra que semeia, fica-se entre a ausência e o desespero.
Onde estarão as palavras? Onde o viver abandona o absurdo e Açucena volta a brotar no nosso jardim planetário, onde colhemos sonhos e armoas?
Semear Açucena com palavra é dizer amor

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Quando morrem as impressões

Olhar
as impressões
do mundo
é sentir.
E só posso
sentir saudade.
Que semeei,
e tem cheiro
e nome
de flor

Impressões para além das persianas da vida

Barulho infernal. É a cidade, bem ali, do outro lado da persiana. Uma mistura descomunal de sons e barulhos. E muita gente, sempre muita gente. E, no entanto, gente que nem parece gente. Parecem, de alguma forma, harmonicamente disformes.

Definir o ser humano para além das persianas é coisa densa, e o mais próximo disso que chego é numa criatura inviável, um amontoado de tensão, carne e desejo reprimido. Tudo parece, assim, tão cruel, frio, perturbador. Tudo que sai de dentro do ermo do olhar choca, espanta.

Para além das persianas, todo o mundo, toda a vida e a não-vida que me aguarda. Por sorte, o mundo para além das persianas não só age e reage. Essas impressões do mundo morrem quando existe a reação, a rebeldia. E o ser mais rebelde de todos, é, sem dúvida, o coração.

Sentir, e não ter impressões. O sentir é quando morrem as impressões do mundo, da vida, das pessoas.

E no meu mundo, no mundo que sinto, as impressões não crescem. Sentir nos ensina a tecer as amizades, os sabores. Ah, as amizades! O que seria de nós, o que seria do mundo, sem amigos?

Quis mesmo dedicar, se pudesse, esse texto a Jean Pierre Vernant, que foi quem um dia escreveu sobre tecer as amizades. Mas só pude mesmo dedicar àqueles que, sabendo, ou talvez nem sabendo, tornaram-se parte mais importante desse mundo que teci.

Viver nesse mundo além das persianas vale por viver junto daqueles que nos dão a mão e são a companhia para os caminhos tortuosos e íngremes, sentir por eles.

É para todos os meus amigos que escrevo hoje. São, todos, meu lar.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

No vale dos pinhões e framboesas

Visconde de Mauá me trouxe o mês de outubro, de forma úmida e fria. Vale onde podemos nos elamear e arranhar pernas e braços ao colher framboesas.
Por entre as tão belas montanhas onde podemos ver os gaviões caçando, insetos de todas as formas e tamanhos, o mês de outubro veio às minhas mãos.
Mesmo cinzento, chuvoso e surpreendentemente frio, outubro na montanha é capaz de espantar o inverno de mim.