sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Teogonoia XI

Certa vez houve um Deus, grande e todo poderoso, e o filho dele, que veio com o único propósito. Morrer. Morrer crucificado. E foi seu próprio Pai quem o mandou pra esse terrível fim.

Mundo feito por um Criador desses, tão perverso, o Amauta não quis. Quis ele outro mundo, onde o Divino não está nas palavras, nem numa natureza dominada.

Foi quando descobriu que no início não havia o verbo, nem a forma. No início só havia o desassossego. E que desassossego maior que saber que vivemos num mundo onde o seu Fazedor mandou o próprio filho para morrer pregado, crucificado.

Quantas chagas, que todos carregamos a vida toda. Basta olhar no espelho, ou olhar para qualquer um que cruze nosso caminho. E veremos algum traço dessa sina.

Sim, muito mais além que nominalistas e corporalistas. Se houver uma divindade, ela não estaria em nenhum lugar que não fosse humano. Será tão difícil compreender isso? Por isso o pai matou o filho, pra que todos os outros filhos carregassem a chaga. Não tem nada mais divino que isso.

E a poseia e a blasfêmia e a doçura confluem, em palavras ordinárias. Minha maior heresia é minha teogonia.

E foi quando vi esses traços de Cristo crucificado, nos rostos pequeninos de crianças pelo caminho, pedindo com as mãos que lhes desse bom ano. Mesmos traços que vi num louco, que pedia intransitivamente.

E talvez é nesses traços comuns e agonizantes, onde mora a força Criadora, em cada um de nós. Esas força que perdemos, mas que não se perde em labirintos ou sonhos que evaporam a cada manhã desmemoriada. É a força que se perde na maturidade.

E assim nasceu uma outra agonia, quando viu-se o que se foi. E é a esses, que ainda carregam as chagas da criação, aos que não separam sonho nem pensamento, que olhem, com toda sua clemência e inocência, aos que se perderam nos labirintos do mundo.

E se, não for demais pedir, em toda essa infinitude, que, talvez um dia, olhem também para mim.

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