sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Teogonia XX

Das pretensões que a vida engendra

Nunca se soube de pretensões maiores do que a chuva, ou um inseto qualquer. Amauta só foi conhecer o que era uma pretensão quando ela passou.

Aquilo só seria senão o amanhecer de um mundo novo. E nem se importou quando fora desdenhado pelas carícias que brotam do chão por onde ela passou. É nisso que se detém. Nisso e nada mais.

A ausência de comédia nas tragédias da vida e do mundo não lhe causava mais assombro. Tudo passava a ser tão... tão desimportante.

E lágrimas e submissões e homens autômatos não assombravam mais do que uma folha desbotada ou um grão qualquer que compõe uma rocha qualquer. Todo o mais teria apenas o mesmo ar austero e escuro como chumbo, sem a pretensão do morno dos seus passos.

Feito um largo adágio de um novo mundo quando ela passou. O mundo era isso, apenas isso e não outra coisa mais.

Amauta tinha Certeza que sem aqueles pés as cores abandonariam as flores, que o resto do mundo seria preto, branco e cinza, sem muita graça. Tudo por causa da moça que passa.

Essa pretensão tamanha, filha do acaso e da audácia, foi simplesmente resistir a tudo. Tudo menos à moça que passa.

E perceber a condição sem igual de se estar apaixonado deveras, ao ponto de querer que até mesmo o chão pertença àquilo que cabe no “seu e no meu”.

Porque Amauta sabe que foi ali que se aniquilou todo o grotesco do mundo. Foi quando ela passou.

Só que foi preciso ela passar para Amauta ver e sentir que o mundo era absurdamente melhor quando ela ainda estava por lá.

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