sexta-feira, 9 de abril de 2010

Liturgias III

Certa noite, quando muito chovia, Amauta teve um sonho, que nem era tão sonho assim.

Andava em meio à neblina, enquanto ia por um caminho rente a uma grande parede, beirando um mar revolto e cinzento. Subindo e subindo, cada vez mais.

Eram tantas pedras que mal podia contar.

É bem verdade que poetinhas, sonhadores, estão acostumados a essas longas travessias. Também é verdade que essas jornadas não servem para nada.

Não prestam a conquistar ou descobrir lugares, nem caminhos. Porque só podemos conhecer aqueles caminhos que já são nossos.

Nessa jornada dilatada, Amauta ouviu um choro, um choro de menina. Chorar a lágrima viva, dom do Alívio. E só o alívio o guiaria na hora da aflição.

Olha então para o alto. Brilham as Três Marias. Abraçado aos vazios de seu coração, Amauta sabe que só quem o guiaria seria das Três, a Segunda Maria.

Agora então ele podia compreender.

Guiado pela menina-estrela, aquele caminho o levaria até a luz, longe de sombras e ausência e desolação. Um lugar de importância.

Do sonho à poesia.

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