quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Apropriações do tempo

De que cláusulas do contrato de viver tiraram que tínhamos que ter isso, ter aquilo, que ter sucesso, que ser vitoriosos, que tínhamos que ser felizes?

Felicidade infinita? Não, não pode. Tudo chega num fim, e talvez seja essa a única graça e razão de tudo começar. Começamos para acabar. Pronto e ponto, simples assim.

A única infinitude possível é o sentimento, e seu irmão com "necessidades especiais", o pensamento. Um é um deus inca, outro, um incapaz. O pensamento é infinito só quando temos uns tantos mecanismos para fazê-lo agir. Seu irmão, o primogênito, age por conta própria, quase ao seu bel prazer, um deus odioso e sem limites.

Fizeram o rio de Heráclito secar. Infames! Mundo hedonista, mundo eudemonista. Foi só isso que criaram? A infâmia está nessa verdade absurda, esse Moloch de centenas de cabeças!

Essas aves de rapina souberam refinar, de todas as formas de escravidão e servidão, a pior possível. Sepultaram a Tragédia e todas as suas musas! A intensidade que produzem essas tais verdades, as verdades deles, aqui, ali, o tempo inteiro, incansavelmente, transbordando o limiar do real e do ermo.

Vertigens e paranóia. Pensar por conta própria, céus, que doentio! A perversidade semântica é tamanha que a isso chamam de doença, demência, loucura, etcetera. Marcar, definir, limitar, muito e amiúde.

É a prolixidade do real. Ou a verdade é só um labirinto de falsidades.

Onde está a potência criadora? Onde estará a potência criadora!?!?

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