terça-feira, 18 de setembro de 2007

percepções

Inverno com dias de calores irreconciliáveis, que parecem nunca acabar. Por onde anda o frio?
O clima é seco, como as pessoas que vejo.
Mundo cão, de pedra e areia e cimento. E pra onde quer que olho, o concreto. E tudo é tão concreto!
As pessoas, secas porque são rudes e rudes porque são secas, se arrumam e se empacotam em roupas inadequadas ao tempo incansavelmente quente, para adentrar o concreto. E dentro do concreto, um mundo dolorosamente... concreto!.
Indiferentemente ao mundo concreto, mundo ladino de vida. E chego dentro da grande jaula de concreto. Aqui, na beirada da janela, por onde vejo a vida concreta, as pessoas secas, dos corações de concreto.
O que pensam? O que respiram? Não sei! Mas exalam concreto por detrás de seus perfumes caros ou baratos!
Fico me perguntando, enquanto não tomo fôlego e coragem para começar o trabalho, essas atividades para pessoas-concreto, se podem sorrir vendo isso. Ninguém repara que não há nada no céu que não seja azul. Ninguém repara que mesmo na cidade tão escassa de verde, podemos ver por aqui e por ali um sabiá ou um bem-te-vi.
Será que essa louca ali na sala contígua à minha pensa nisso? Não, ela não pensa, ela só fala. Fala e reage. Será que ela é mesmo louca, ou é feliz no seu não-saber?
Não, ninguém é louco por isso. Talvez só eu mesmo seja louco. Só posso ter certeza da minha própria loucura, e é nela e com ela que me faço e sinto vivo.
Sou louco, sim, louco para encontrar dentro do mundo de concreto, das pessoas-concreto, um pouco de vida, um pouco de humanidade. Esses homens e mulheres de concreto só têm uma loucura: serem salvos por um deus, um deus piedoso como as paredes dos prédios de concreto, que eles mesmos criaram! Covardia para fazer pensar suas mentes de concreto
E quem se lembra que é humano numa vida cada vez mais de aço e silício...
e concreto?

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