sábado, 1 de setembro de 2007

Flores do mal

Ontem vi cravos numa sacada, a miséria humana num vaso de barro. Vi a decadência de uma família, nas paredes mal cuidadas de um hospital público Casa de agonia, casa de dor. Por quantos infernos passamos antes de morrer, antes de voltar para o inferno?
Ontem, pelo caminho, via cravos numa sacada. E como poderia imaginar que seriam o prenúncio de lágrimas, de saudade sem fim, saudade cheia de dor e angústia?
Vi cravos na sacada, e na casa sem sacada, onde as paredes lutavam contra o tempo para não lembrarem demais as paredes do hospital, casa de doença, vi a dignidade morrer, uma família destroçada, por fim, acabar.
Ao ver os cravos na sacada, quis chorar, porque a morte tanto passou ali, no corredor mal cuidado, de aspecto imundo, na minha frente, rindo do tempo, rindo de mim, dos outros, de qualquer um que entrasse naquele lugar de horror.
E hoje, quando toca o telefone, maldito e infame, vejo os cravos na sacada, e outra vez a morte, anunciada.
No jardim da minha Açucena, reino do tempo, reino de mim, não semearei nenhum cravo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário