sexta-feira, 3 de abril de 2009

O acalanto e o desalento

Foram tantas, as tantas vezes que te fiz dormir nas minhas palavras... e, no entanto, talvez você nem mais alcance que já foi o meu maior encanto, minha mais terna pretensão. Por quais pomares colhes teus sonhos maduros? Você dormia nas minhas palavras!

Ah, teus enganos e equívocos, que do sono que eu fazia para te dar todas as noites, de todos os pensamentos vagos e não-vagos que me roubava, só me restam hoje noites em claro.

Nem encontro algum alento sequer, que me faça sair do desterro de ti.

Ainda assim escrevo. Escrevo para que teu sono possa ter onde recostar após teus cansaços mundanos. Curiosamente, apesar dos abismos da saudade de ti, do silêncio mutilante, escrevo. Mesmo diante de uma ausência tão agreste, como uma prece, escrevo.

Sem que saibas, te faço dormir, falando baixinho, semeando girassóis, como um menino, como um pássaro, como o próprio vento que te bate à janela.

Imprevisível e irresistivelmente, te escrevo. Livre de dores ou dissabores, de todas as circunstâncias e coerções, escrevo.

Quando te escrevo, sei que ainda está brotando nos meus jardins. Te canto, você me inventa. Veja, é mais intenso que o tempo, que o teu silêncio!

Será que até mesmo da tua loucura eu preciso?

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