Magnificat
Hoje só um homem nasceu no mundo.
E foi o único a ver o amanhecer,
sabendo que já nascera com eras de idade.
Eras de um passado turvo e desconhecido,
das glórias e guerras de antanho
que trouxeram a modernidade,
um progresso ensimesmado
na fúria, na usura.
Hoje só um homem olhou ao redor de si
e alguma palavra lhe escapou à boca
sem que a soubesse pronunciar.
E também hoje, esse mesmo homem
que nasceu solitário, e mudo,
entre tantos iguais,
sofre.
Porque ele nasceu hoje,
já grisalho e cansado,
do mundo que deixou de ter um chão
que deixou de ter um céu.
Agora o homem nascia velho,
preso nos grilhões de ferro
e vidro e fumaça e pó.
O homem nasce hoje, só ele,
num mundo que não é mais seu.
Hoje só um homem nasceu,
sabendo que nem vive mais
e nasce - e morre.
E hoje foi só um homem que morreu,
quando acordou e se encarou
no espelho
Fiz de conta que esse homem
também não era eu.
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
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