segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Lendas Pärtianas II

Magnificat

Hoje só um homem nasceu no mundo.
E foi o único a ver o amanhecer,
sabendo que já nascera com eras de idade.

Eras de um passado turvo e desconhecido,
das glórias e guerras de antanho
que trouxeram a modernidade,
um progresso ensimesmado
na fúria, na usura.

Hoje só um homem olhou ao redor de si
e alguma palavra lhe escapou à boca
sem que a soubesse pronunciar.

E também hoje, esse mesmo homem
que nasceu solitário, e mudo,
entre tantos iguais,
sofre.

Porque ele nasceu hoje,
já grisalho e cansado,
do mundo que deixou de ter um chão
que deixou de ter um céu.

Agora o homem nascia velho,
preso nos grilhões de ferro
e vidro e fumaça e pó.

O homem nasce hoje, só ele,
num mundo que não é mais seu.

Hoje só um homem nasceu,
sabendo que nem vive mais
e nasce - e morre.
E hoje foi só um homem que morreu,
quando acordou e se encarou
no espelho

Fiz de conta que esse homem
também não era eu.

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